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Sobre essa busca eterna por nossa identidade

Vocação, talento, passatempo, trabalho, faculdade, carreira, construção, desconstrução e sei lá mais o que porque ainda tô vivendo isso


Tudo certo? Espero que sim. Resolvi usar esse espaço do site novo que vem com blog e outros luxos para escrever um pouco sobre coisas que penso; sobre arte, sociedade, projetos, curiosidades, desafios, profissionalização do artista e por aí vai.


E a primeira coisa que me bateu foi: por onde eu começo? Nessa linha de pensamento de por onde começar fui voltando... voltando... e voltando mais e mais no tempo. Até concluir que teria de começar por registros e retalhos de memória lá do começo. Tipo esse aí embaixo:

Alberto e Alberto - 1992

Essa criança sentada aí na banqueta de frente pro piano sou eu aos 3 anos aproximadamente com meu pai, que se chama Alberto também. Pois é, eu sou "Junior". Por mais que para o nome meus pais não tenham sido muito criativos, lá em casa sempre foi um ambiente propício no que diz respeito à experiência e contato com a arte. Especialmente música: meu pai tocava piano e violão, sempre tive um ambiente muito musical em casa (Elis, Chico, João Bosco, Bethânia era frequente no rádio de casa). Meus avós, tios e primos também sempre foram envolvidos com música por conta da igreja. E tenho um primo guitarrista e produtor musical zika que se chama... Mozart!

Desde pequeno tentava desenhar pessoas e a criar historinhas. Meus pais não incentivaram diretamente essa parte não, pois acredito que o incentivo direto seria me colocar em alguma aula de desenho se possível. Da infância até a adolescência o incentivo lá em casa foi outro, o esporte, no caso o judô. E foi importante, porque me ensinou a cair e levantar. Eu acredito que podemos já nascer com aptidão incomum - e naturalmente acima da media - para algumas coisas. Além de aprimorar algumas dessas aptidões naturais, acredito que adquirimos novas por meio de prática constante.


E posso dar exemplos práticos aqui: eu treinava judô pra caralho e num dado momento comecei a me destacar. Mas eu nunca fui talentoso pro judô, era treino mesmo, duas vezes ao dia, de manhã e de noite, todos os dias, com exceção de sábados e domingos, que não treinava, mas competia. Um exemplo agora de aptidão natural: Música. Embora estimulado em casa a bons sons, eu nunca estudei música, mas comecei aos 13 anos a pegar o violão, pratiquei e hoje me viro bem com o instrumento. Não tô dizendo que baixei o Yamandu Costa, não é isso, mas percebo que de alguma forma consigo ouvir e memorizar sonoridades em geral e reproduzí-las no mesmo tom - seja com a boca ou com um instrumento. Talvez se tivesse praticado e sido incentivado, fosse um músico bom hoje.


Yamandu Costa

E o último exemplo de talento adquirido pelo treino: artes visuais e escrita. Há muitos anos treino minha capacidade de comunicação por meio de textos e imagens. Eu experimentei MUITO, mas MUITO mesmo até começar a achar um rastro de "estilo próprio", que é essa coisa da originalidade de cada artista. E foi nesse experimento constante que iniciou a minha busca eterna do título desse post.


Isso é importante reforçar: eu ainda estou nessa busca. Acho que sim, a gente vai acertando na maneira de como nos sentimos confortáveis de nos expressar, mas... se entramos no conforto o barco começa a desandar. Por isso eu sou inquieto e nunca paro de buscar referências e me atualizar.


Mas pra deixar um pouco mais ilustrativa essa coisa da busca da identidade, coloquei mais 4 fotos abaixo de 4 momentos da minha vida: 2007/2008, 2009 e 2010 respectivamente.


Em 2007 entrei num curso técnico de Design Gráfico, aí comecei a ter noção de composição, cores, conceito e a tal da gestalt. Em paralelo em 2008 iniciei a faculdade de Comunicação Social, e lá comecei a me ligar em texto, em como comunicar de maneira mais acertiva, a me aprofundar mais em conteúdo, a estudar Teoria da Comunicação e uma coisa chamada Semiótica, que uso muito no que faço e se você quiser aprofundar depois, dá um google. Isso tudo é representado na foto que tô segurndo uma pintura amarela, foi meu início: comecei a mexer com tinta, a mexer no photoshop, corel draw, indesign, illustrator, estudei um cadinho de história da arte, desenho, teoria das cores, da comunicaçaõ etc.


O segundo momento é 2009, quando comecei a botar pra fora as coisas que escrevia. Tirei da gaveta mesmo. Esse exercício de botar pra fora começou em um sarau chamado Corujão da Poesia, sarau que acontece há 14 anos entre Rio, Niterói e São Gonçalo. Escrever é parte do meu ponto de encontro e uma terapia pra mim.


Muito do que faço é um misto de escrita e imagem, às vezes vem a escrita primeiro, outros momentos vem a imagem. Sempre existe a troca entre um e outro, raras são as vezes que não rola essa interação. Uma pessoa que me inspira e inspirou muito nesse momento foi o Arnaldo Antunes: artista multimídia, uma das mentes mais criativas e completas desse Brasil a meu ver.

O penúltimo desses momentos que fala um pouco sobre a trajetória de achar a identidade foi em 2010, quando fui ao Encontro Nacional de Estudantes de Design em Curitiba e conheci o lambe-lambe por meio de um artista de brasília radicado no sul chamado Vital Lordelo aka @domvital. Nesse momento conheci a técnica, embora não fizesse ideia de que essa mesma técnica se tornaria meu ofício hoje. Mas pelas fotos aí embaixo, dá pra ver que eu treinei bastante hahahhahahahha.

De 2010 em diante, comecei a paralelamente brincar de fazer poesias e colagens - primeiro analógicas e depois digitais (num outro post compartilho elas). E um grande desafio que comecei a ver era que eu tinha uma vontade imensa de transformar em imagem as coisas que escrevia e vice-versa. Parecia que um não podia existir sem o outro. E nessa vontade de "desenhar" os textos comecei a fazer tirinhas.


Do fim de 2012 até 2014 me dediquei a criar tirinhas a partir de poesias que escrevia, textos que tinham relação com conflitos entre razão, emoção, amor, sociedade. O nome era "Os 3 Poderes", que retrava os diálogos e conflitos de pensamentos de um cérebro, um coração e um pinto.



Tirinhas "Os 3 Poderes", 2012-2014

E até que em 2014 já tava um pouco mais avançado na técnica, um pouco mais experiente na comunicação, com um repertório de referências e experiências maior ao longo desses testes passados e comecei a entrar de cabeça em colagens mais realistas. E num destes exercícios cheguei num conceito que abraçava questões que me angustiavam internamente e (finalmente!) estavam sendo colocadas em pauta na sociedade, que era a questão da negritude, do empoderamento, das pautas raciais e que pra mim culminaram na série #NegroNobre.


O restante sobre como a partir desse achado "inicial" eu comecei a aprofundar os meus processos eu falo num próximo post!


Espero que esse texto tenha falado contigo e dado um gatilho de que identidade não se encontra em promoção, é algo construído a partir de experiências e trajetos individuais. E que é constante essa busca e troca de identidade. A essência permanece, mas a forma de mostrar essa essência ganha novas roupas e verbos.


Pra mim foi ótimo voltar os anos e ver esse processo de construção eternamente inacabado. Novamente, espero que tenha acendido algo internamente em quem tiver contato com esse texto e, por favor, se possível, troca comigo nos comentários. Té mais!





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