top of page

2019

ANJO PRETO ATÉ DEUS DUVIDA

ACERCA DE TU
HÁ CERCAS?

Em Anjo Preto, o artista se reinventa ao alcançar novos estágios de matéria, forma e signo para seu trabalho, cutucando nas feridas de um mundo segregado entre céu e inferno, branco e preto.

 

O artista mantém sua força semiótica e apresenta um cuidado aprimorado em suas saídas: Papéis reciclados pelas próprias mãos, um a um, se tornam a base para as criações, o que aplica mais camadas à metalinguagem do seu trabalho. Tinta acrílica vem a jogo, possibilitando novas explorações cromáticas e trazendo percepção mais encarnada e menos digital, com inserções de poéticas múltiplas que nos fazem arriscar dizer que, num tempo em que Basquiat vivesse, estes seriam amigos próximos. Alberto evolui com coragem e apresenta questões mais sutis e complexas, como anjos caídos.

Imagens nos convidam a questionar o sagrado cristão, refletir desigualdade social, as crianças e o futuro que as reserva - ou não.

Sobre olhar ao inverso.jpg
fragmentos de asa.jpg

Asas nos lembram dos possíveis voos: dos que sonham aos que perdem a vida. Rostos cobertos nos indicam os silenciamentos diários de um povo, e cores de amplas paletas nos reforçam que há sempre algum modo para seguir, mesmo que na resiliência. Traçando um comparativo com sua última individual, em “Empatia” (2017, Centro Cultural Paschoal Carlos Magno) Alberto nos convidou para sentar em confortável poltrona para reflexões. Em “Anjo Preto até Deus Duvida”, somos atirados em denso mar de resíduos de memórias de um singular observador.

 

Tenho a impressão de que é em sua catártica e inesgotável produção que Alberto se permite refletir como homem negro. Não a toa, é nesse campo genuíno e de profundo acesso a si que o artista consegue perfurar nossas consciências como pretos, à mesma medida que a consciência dos brancos enquanto brancos.

ā€‹

Crianças-anjo são a crença na mudança. O dito Novo Tempo não existe enquanto tivermos espaços cercados de separação e banhados na vaidade do inclusivo:

ā€‹

Esses são os comuns, perpetuadores das estruturas do velho mundo. A transformação tem cor e começa fora das fronteiras da colônia, muitas vezes adentrando-as para implantar sementes. Alberto Pereira é potência transformadora que liga tempos, indivíduos, afetos e derruba muros.

ā€‹

 

Peter Albuquerque

bottom of page