Por Naiara Andrade
“Quebrar paredes com papel” é o lema de Alberto Pereira. O carioca de 31 anos, que atualmente mora em Niterói, é formado em Comunicação, articulador e propagador da cultura do lambe-lambe (colagens) pelas ruas das cidades.
Em 2015, sua arte ganhou maior projeção com a série “Negro nobre”: tomando por base pinturas dos séculos 15 ao 17, ele cria versões pomposas de personalidades da raça negra que nos são contemporâneas.
— Como as aulas de História, às vezes, contam só uma parte da História, resolvi reescrever a minha em forma de imagem
explica Alberto, que já fez releituras com os rostos de vários atores e cantores famosos do Brasil, como Jorge Ben Jor, Martinho da Vila, Tim Maia, Sheron Menezzes, Emicida, Sandra de Sá e Mr. Catra, entre outros.
Em seu processo de criação, o artista pesquisa virtualmente em acervos de museus obras que se encontram em domínio público e tenham mais de 200 anos. Quando encontra uma ideal, analisa a luz, o enquadramento, a proporção e a perspectiva para a imagem da personalidade que vai assumir o protagonismo no quadro.
— Todo o processo de construção (de “Negro nobre”) é digital, em programa de edição de imagem. Mas, em muitos trabalhos meus, o processo é misturado e vai do digital ao manual e vice-versa — detalha Alberto, que, a pedido do EXTRA, fez uma nova intervenção por ocasião da proximidade do Dia da Consciência Negra, e uniu a foto da cantora Alcione captada por Vinícius Mochizuki à obra “Retrato de Isabella d’Este”, de Peter Paul Rubens:
— Meu foco é construir e ressignificar. Não me reconheço vendo a Isabella d’Este, uma figura popular no meio da arte, da moda e da política na Itália do século 16, mas me reconheço quando a Marrom “assume o trono”. Alcione ganhou o Brasil e o mundo com sua voz, saindo do Maranhão, sem ter título de “nobre”. Acho que a Isabella deve estar lisonjeada em ceder seu trono para uma de nossas rainhas do samba.
Segundo Alberto, seu trabalho não é apenas pontual. Vai além: é uma missão.
— Parte de minha arte perpassa a negritude porque visto esta pele. Eu pratico o Dia da Consciência Negra todos os dias. Não quero ser reconhecido como um artista visual negro, mas como um artista visual, que também é negro. Contribuir através da ressignificação de imagens é um dos meus objetivos, mas o principal é fazer parte da História da Arte — afirma.
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